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TABELAS DE DESCOMPRESSÃO E COMPUTADORES PARA MERGULHO – PARTE II

Por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 967 (Julho e Agosto de 2012)

 

Depois de na última crónica termos introduzido o tema e caracterizado as tabelas de descompressão, pretende-se nesta edição falar sobre computadores de mergulho.

Embora se tenham desenvolvido alguns calculadores anteriores aos anos 80 do século passado, a precisão e fiabilidade destes equipamentos era muito questionável e normalmente tinha associado um elevado custo de produção, pelo que nunca foi produzido nenhum destes equipamentos de forma comercial. O advento dos microprocessadores, no início da década de 80, veio então permitir o desenvolvimento de equipamentos acessíveis, práticos e fiáveis para incorporação dos algoritmos de descompressão que permitiam calcular a absorção/libertação do azoto em mergulhos multinível de forma segura e conveniente.

 

Atualmente existe uma vasta gama e variedade de computadores disponíveis, adaptando-se a todos os tipos de mergulhos, do recreativo ao técnico mais radical

Fig. 1 - Atualmente existe uma vasta gama e variedade de computadores disponíveis, adaptando-se a todos os tipos de mergulhos, do recreativo ao técnico mais radical (Fonte:  http://www.dailyscubadiving.com/dive-computers-our-aquatic-personal-assistants/ )

 

O primeiro computador de mergulho comercialmente disponível foi o Orca Edge, lançado em 1983. Desde esse momento os computadores evoluíram muito, acompanhando o galopante desenvolvimento da tecnologia informática. Diminuíram em tamanho e preço e aumentaram em fiabilidade e funções disponíveis, atingindo níveis de sofisticação que permitem, neste momento, funcionalidades como a utilização de misturas binárias e ternárias combinadas, quer em circuito aberto quer em circuito fechado e semi-fechado, ligações sem fios a sensores de pressão nas garrafas e integração de informações metabólicas básicas, como é o caso da frequência cardíaca, para previsão de autonomias dos gases.

 

Computador Orca Edge. Lançado em 1983

Fig. 2 - Computador Orca Edge. Lançado em 1983, foi o primeiro computador a estar de facto acessível ao público em geral garantindo alguma fiabilidade e precisão (Fonte:  http://www.divetable.de/kap3_e.htm)

 

Mas afinal o que é um computador de mergulho? Na sua função base, o cálculo da absorção de azoto pelo mergulhador quando em imersão, é um microprocessador o qual tem introduzido um algoritmo de descompressão e a que estão ligados um profundimetro e um relógio, que conjugados fornecem os dados de entrada para processamento. Estes dados não são mais que a informação da profundidade dada em intervalo de cerca de um segundo (varia de modelo para modelo) que permitem ao algoritmo calcular a entrada (saturação) e/ou saída (desaturação) do azoto nos nossos tecidos.

Funcionando desta forma o computador de mergulho permite a integração praticamente real do azoto que é absorvido a cada momento do mergulho do que resultam valores de saturação deste gás inerte que representam fielmente o perfil de mergulho efetuado. Naturalmente esta informação é apresentada ao mergulhador tratada na forma de tempo máximo disponível para permanecer à profundidade a que se encontra no momento (Limite Sem Descompressão). Se nos recordarmos o perfil quadrangular resultante da interpretação gráfica de um mergulho através de uma tabela de descompressão (ver crónica anterior) facilmente se concluí que estas se tornam excessivamente conservadoras e penalizadoras por assumirem, por inerência da sua construção, que todo o mergulho se realizou à profundidade máxima que foi atingida, situação que só pontualmente acontece. Desta contingência advém a mais marcante vantagem da utilização de um computador de mergulho em detrimento das tradicionais tabelas de descompressão.

 

Computador de mergulho para utilização de misturas binárias (NITROX) e ternárias (TRIMIX), com equipamentos de  circuito aberto, fechado e semi-fechado

Fig. 3 - Computador de mergulho para utilização de misturas binárias (NITROX) e ternárias (TRIMIX), com equipamentos de  circuito aberto, fechado e semi-fechado.(Fonte: Dive System, srl)

 

Com a tecnologia, miniaturização e conhecimento médico em rápido e constante desenvolvimento é difícil prever o que serão os computadores de mergulho daqui a uma ou duas décadas. Certamente permitirão integração de dados biométricos pessoais detalhados do utilizador ajustando os algoritmos ao individuo de forma muito precisa e acumulando uma série de outras funções complementares que poderão incluir dados de navegação subaquática, gestão integrada de gases próprios e do parceiro e certamente um sem número de outras funcionalidades as quais certamente ainda não conseguimos imaginar.

Ferramenta imprescindível no mergulho desde a sua origem, a Tabela de Descompressão, está a passar dos sacos dos mergulhadores para as prateleiras dos museus. No ensino do mergulho recreativo nas principais agências mundiais a sua utilização é já facultativa antevendo-se o seu afastamento num futuro próximo. O grande vencedor desta batalha desigual é o computador de mergulho, que já garantiu a sua imprescindibilidade no seio das comunidades de mergulho comercial, militar, técnico e recreativo.

 

 

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