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MISTURAS RESPIRATÓRIAS PARA MERGULHO – PARTE 3 – TRIMIX

por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 965 (Março e Abril de 2012)

 

No seguimento das últimas duas crónicas dedicadas às misturas respiratórias onde abordamos alguns conceitos inerentes a compreensão da necessidade de utilização de misturas diferentes do ar no mergulho e caracterizamos as misturas de NITROX e HELIOX, na derradeira crónica desta série vamos falar da mistura mais “jovem” e eventualmente mais unanime no seio da comunidade de mergulho, quer profissional quer recreativa técnica, quando se aborda o mergulho a profundidades maiores que 50 metros, o TRIMIX.

A história do TRIMIX como mistura respiratória para mergulho é muito recente. A sua primeira utilização documentada remonta apenas a 1987, na exploração do aquífero de Wakulla Springs, na Florida, EUA, o maior e mais longo sistema de grutas submersas de água doce conhecido, por parte do lendário mergulhador técnico em gruta Sheck Exley, que foi também o primeiro instrutor de mergulho com esta mistura. A sua grande divulgação surgiu no entanto em 1991 quando Tom Mount, fundador da agência de mergulho técnico IANTD (International Association of Nitrox and Technical Divers), também ele uma lenda na área do mergulho técnico, desenvolveu os primeiros padrões de ensino para mergulho com TRIMIX. Como marco de afirmação na ainda curta história desta mistura surge a expedição ao destroço do “Lusitânia” em 1994, por uma equipa de mergulhadores americanos e ingleses.

Uma das curiosidades relativa à “descoberta” do TRIMIX é que, ao contrário do NITROX e especialmente do HELIOX, não surge no meio militar ou profissional mas no seio da comunidade de mergulho recreativo técnico, o que é paradigmático do advento do mergulho como actividade disponível e acessível a todos

Mergulhaodres a iniciar mergulho com circuito fechado (rebreathers) com TRIMIX
Figura 1 - Mergulhadores a iniciar mergulho com equipamentos de circuito fechado (rebreathers) com misturas de TRIMIX (foto do autor)

Mas, de facto, o que é que o TRIMIX trás de novo relativamente às possibilidades e limites estabelecidos pelo NITROX e especialmente pelo HELIOX? Pouco ou nada! O TRIMIX mais do que aumentar os limites, tal como aconteceu com o HELIOX, procura juntar “o melhor de dois mundos”, no que se refere ao Azoto e Hélio.

Conforme vimos nas anteriores crónicas, o Hélio surge como substituto do Azoto como gás inerte na mistura para evitar o seu efeito narcótico, que se faz sentir de forma muito penalizante a partir dos 40 metros, sabendo que o oxigénio deve ser mantido dentro de limites muito restritos pois o perigo inerente a ser respirado a elevadas pressões parciais é ainda mais significativo que o inerente à narcose do Azoto. Além disso a baixa densidade do Hélio reduz a resistência respiratória diminuindo a formação de Dióxido de Carbono (CO2), gás que além de ser extremamente narcótico aumenta a susceptibilidade do organismo à toxicidade pelo Oxigénio e à Doença de Descompressão.

Treino em piscina com equipamentos em circuito aberto para mergulho com TRIMIX
Figura 2 - Mergulho de treino em piscina para mergulho com equipamento de circuito aberto com TRIMIX (foto do autor)

Mas, ainda assim, quais são as grandes vantagens do TRIMIX em relação ao HELIOX? Bem, à cabeça surge a questão económica pois o Hélio é um gás muito raro e consequentemente caro, enquanto o Azoto está disponível em grades quantidades e é de fácil acesso. Surge ainda a questão do HPNS (High Pressure Nervous Syndrome), síndrome caracterizado por tremuras, sonolência, distúrbios visuais, tonturas, náuseas e diminuição das performances mentais que surge normalmente abaixo dos 150 metros, pese embora os mais recentes estudos acerca deste efeito do Hélio indicarem que está relacionado fundamentalmente com elevadas velocidades de descida. Há ainda a questão da condutividade térmica do Hélio que faz com que a perda de calor através da respiração utilizando TRIMIX seja menor, embora se saiba que estas perdas através da respiração são pouco significativas, sendo as misturas com Hélio desaconselhadas fundamentalmente no enchimento dos fatos secos.

Estudos recentes associados à massificação do TRIMIX, quer no mergulho profissional quer no mergulho recreativo técnico, sugerem que tem vantagens descompressivas no que diz respeito ao HELIOX, provavelmente associadas a “divisão” da absorção e libertação pelos dois gases. Embora se saiba que esta análise é simplista e não representa com precisão as dinâmicas envolvidas, existindo ainda um longo caminho a percorrer pelo saber nesta área, tende a ser já genericamente aceite.

Paragem de descopressão deposi de um mergulho com equipamentos de circuito fechado (rebreathers) com TRIMIX
Figura 3 - Mergulhadores a cumprir um patamar de descompressão no final de um mergulho com equipamentos de circuito fechado (rebreathers) com misturas de TRIMIX (foto do autor)

Pese embora todos os argumentos descritos pode dizer-se que o TRIMIX é “o gás do momento” para todos os que pretendem estender os seus mergulhos para lá dos 50 metros. Faltando muitas certezas acerca dos fenómenos associados à descompressão, pode dizer-se que o mergulho com TRIMIX é neste momento seguro, dentro do que pode ser o mergulho profundo para além dos 50 metros, sendo prova disso a sua massificação ao nível do mergulho recreativo técnico, profissional e até a sua progressiva entrada no conservador mundo do mergulho militar.

Sem dúvida o TRIMIX veio para ficar!

Em jeito de conclusão dedicámos estas últimas três crónicas às misturas respiratórias diferentes do ar mais comummente utilizadas para mergulho; o NITROX, o HELIOX e o TRIMIX, abordado sucintamente as variáveis envolvidas na respiração dos gases sob pressão, as vantagens e desvantagens de cada uma delas e quais as suas principais áreas de utilização.

 

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