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Mergulho!?... Porque mergulho?

Por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 973 (Julho e Agosto de 2013)

 

Tendo dedicado as últimas crónicas a questões técnicas relacionadas com equipamentos e fisiopatologia hiperbárica, nesta edição, com o mergulho como tema central desta revista, decidi fazer uma pequena reflexão acerca das características e peculiaridades do mergulho como actividade lúdica e recreativa, que o tornam aliciante, apaixonante, acessível e, num mundo que se pretende global e civilizado, inclusivo.

A história das actividades subaquáticas humanas é já longa mas o mergulho recreativo é ainda uma actividade relativamente jovem, tendo-se desenvolvido e generalizado apenas a partir dos finais da década de 70 do século passado. Inicialmente visto como uma actividade radical e um pouco elitista rapidamente, por força da rápida expansão e grande procura, se tornou acessível a um grande número de pessoas.

Atualmente existe uma vasta gama e variedade de computadores disponíveis, adaptando-se a todos os tipos de mergulhos, do recreativo ao técnico mais radical

Fig. 1 - Exemplo de Curso de Inicial de Mergulho “Open Water” que incluiu alunos a partir dos 12 anos e pessoas com necessidades especiais. (Fonte: Foto do Autor).

Mas, sendo uma actividade desenvolvida num meio hostil à vida humana o que é que tem de tão atractivo o mergulho, especialmente se recreativo? Certamente o desafio do desconhecido, a suplantação pessoal e o mistério que encerra o mundo subaquático encabeçaram a lista dos aliciantes de quem pratica ou pretende praticar esta actividade mas, tais motivações, são hoje bastante redutoras no que diz respeito às razões que levam as pessoas a iniciar e praticar o mergulho nos seus tempos livres.

O mergulho recreativo distingue-se nos dias de hoje, com o desenvolvimento dos equipamentos, das estratégias de aprendizagem e das organizações de certificação que o regem a nível mundial, por ser uma actividade inclusiva como poucas. Vejamos quantas actividades de ar livre e de contacto com a natureza podem ser feitas, em simultâneo e em conjunto, por famílias inteiras incluído crianças, pais e avós, de ambos os sexos, desfrutando, indiferentemente da sua condição, de cada momento? Pessoalmente lembro-me de muito poucas, o mergulho vêm à cabeça.

A água (doce ou salgada), pelas suas características, permite ao ser humano vivenciar, quando imerso, a ausência de peso. Esta característica acrescenta uma dimensão à nossa habitual capacidade de movimentação bidimensional, dando uma sensação de liberdade que só encontra paralelo no espaço. Simultaneamente, a mitigação da incontornável gravidade por parte da impulsão, faz que com o meio subaquático seja inclusivo para muitas pessoas para quem, por inerência de alguma necessidade especial, têm limitações diferenciadas quando à superfície, permitindo a partilha do meio subaquático em igualdade de circunstâncias com os demais.

Computador Orca Edge. Lançado em 1983

Fig. 3 - Mergulho como actividade em família (mãe e filho durante mergulho em Porto Covo). (Fonte: Foto do Autor).

Surge sempre a questão da segurança quando se fala genericamente de mergulho. Naturalmente que, pelas suas características nomeadamente o meio em que se desenvolve, o mergulho envolve riscos mas, com a actual conjuntura de processos de certificação, estruturas legais de suporte e fiabilidade de equipamentos e procedimentos, o mergulho recreativo é extremamente seguro quando praticado com a formação adequada, com equipamento de qualidade, respeito pelas normas e procedimentos de segurança e, como qualquer outra coisa na vida, sensatez e bom senso.

Então e em Portugal, de que forma deve ser o mergulho encarado? Uma ideia sobre a qual tenho reflectido cada mais é a necessidade de trazermos as pessoas, em especial os jovens, para o mar. Num país como nosso, que é um “rectângulo à beira mar plantado”, o mar surge como a grande mais-valia estratégica e como o factor diferenciador em relação aos restantes países com quem habitualmente interagimos. Desenvolver uma cultura de mar e para o mar é talvez a única saída para voltarmos a ser competitivos e isso cria-se levando as pessoas para o mar, surgindo as actividades náuticas, aquáticas e subaquáticas como ferramentas incontornáveis de ligação das pessoas ao seu mar. A nossa história faz jus a isso, fomos grandes quando olhámos para o mar.

Computador Orca Edge. Lançado em 1983

Fig. 4 - Dois Jovens mergulhadores, de 11 e 14 anos, praticando procedimentos de emergência durante um curso inicial de mergulho “Open Water”. (Fonte: Foto do Autor)

Pelas ideias que procurei transmitir nos parágrafos anteriores (certamente muito fica por dizer), vejo o mergulho como uma actividade que tem aliciantes e um potencial de crescimento e desenvolvimento como poucas, pelas suas características de partilha, inclusão e por termos a felicidade de ter este mar maravilhoso mesmo “à porta de nossa casa” e que nos “está no sangue”.

 

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