Doença de Descompressão – Parte 2
Por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 978 (Maio e Junho de 2014)
Depois de na última crónica ter introduzido a Doenças de Descompressão (DD) e descrito genericamente as suas causas e mecanismos de geração, pretendo nesta crónica abordar as formas mais comuns desta patologia e os sintomas e sinais associados à sua ocorrência.
As DD classificam-se habitualmente em função dos órgãos atingidos como: cutâneas, osteoarticulares, áudio-vestibulares, neurológicas e cardiopulmonares.
Uma divisão clássica e a cair em desuso é o agrupamento destas patologias segundo a gravidade e consequências dos seus sinais e sintomas em DD Tipo I e Tipo II, albergando as primeiras as de manifestação cutânea e osteoarticular e as segundas as restantes, iminentemente mais graves. Esta divisão tem caído em desuso por habitualmente haver manifestações combinadas dos vários tipos, nomeadamente nos casos mais graves, sendo também comum os sinais e sintomas surgirem de forma progressiva e/ou regressiva conjugando diversos conjuntos de órgão em simultâneo e podendo alternar entre eles durante o seu processo de evolução, estabilização e recuperação.
Fig. 1 - Cutis Marmorata, pele manchada (tipo “mármore”) associada a uma Doença de Descompressão de manifestação cutânea. (Fonte: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140673610610859/images?imageId=gr3§ionType=green&hasDownloadImagesLink=true )
Como sintomas habituais de DD podemos indicar: fadiga exagerada, comichão, dores articulares e/ou musculares, tonturas, vertigens, nistagmo (oscilações repetidas e involuntárias rítmicas de um ou ambos os olhos), dormência, falta de força e sensibilidade, paralisias e dificuldades respiratórias.
Como sinais habituais podemos identificar: pele manchada (efeito “mármore”), paralisias, fraqueza muscular, dificuldades urinárias, confusão mental, alterações de personalidade e comportamentos desajustados, amnesia, tremores, descoordenação motora, tosse com expectoração rosada, colapso e inconsciência.
Esta diversidade de sinais e sintomas, acrescido o facto de se poderem manifestar de modo, intensidade e combinações muito aleatórias, faz com que as DD sejam muitas vezes de difícil diagnostico, mesmo por profissionais de saúde, que muitas vezes não têm presentes as características destas patologias e recebem os pacientes sem informação de que estes estiveram em ambientes sob pressão num passado recente.
Fig. 2 - Um bom planeamento, controle e disciplina durante o mergulho são a melhor ferramenta para reduzir as probabilidades de ocorrências de DD. (Fonte: Scuba Schools International - http://www.divessi.com/)
É também normal e existência de fenómenos de negação por parte dos acidentados de mergulho, quer associados à comum dificuldade em identificar os sinais e sintomas, quer relacionados com a conotação negativa associada a esta doença que faz transparecer uma imagem de desrespeito por regras e procedimentos de segurança e má conduta do mergulhador.
Pelos factores descritos nos parágrafos anteriores, a correcta identificação e encaminhamento de um mergulhador com DD surge como o passo fundamental, muitas vezes o mais difícil, na abordagem a uma vítima de DD, sendo a rapidez no diagnóstico e implementação do tratamento adequado factores determinantes para a resolução da doença e a diminuição da probabilidade e gravidade de sequelas futuras.
Descritos os tipos de DD e seus sinais e sintomas, deixamos para a nossa próxima crónica os factores potenciadores desta patologia, quer de caracter fisiológico quer de procedimentos por parte dos mergulhadores, deixando para a nossa ultima crónica dedicada à DD a abordagem e socorro que deve ser prestado a uma vitima suspeita desta patologia.
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