O que é um Rebreather? – Parte I
Por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 968 (Setembro e Outubro de 2012)
Nesta edição da nossa estimada RM, que sai com o mote do mergulho, gostaria de iniciar um ciclo de temas que abordem o mergulho recreativo e técnico com equipamentos recicladores de circuito fechado e semi-fechado, mais habitualmente conhecidos por rebreathers. Considerando que alguns dos nossos leitores possam não conhecer este tipo de equipamento considerei dedicar as próximas duas crónicas a apresentar, de forma sucinta, este tipo de tecnologia de mergulho.
Embora o princípio de funcionamento dos equipamentos de respiração que reciclam os gases de expiração fosse já conhecido desde o século XVII, as primeiras máquinas de respiração subaquática a incorporar esta tecnologia só foram idealizados no início do século XIX e produzidos no final do mesmo século. Como grande parte das “novas tecnologias” a sua génese e primeiras aplicações foram dentro do foro militar tendo este tipo de equipamento chamado a atenção do mundo na Segunda Guerra Mundial através dos feitos da unidade de mergulhadores de combate italianos “Decima Flottiglia MAS”, responsável por diversos afundamentos de navios aliados fundeados em portos do Mediterrâneo.
Fig. 1 - Mergulhador italiano da “Decima Flottiglia MAS” com equipamento de circuito fechado de oxigénio. (Fonte: http://husarblog.wordpress.com/2011/09/22/the-raid-on-alexandria-december-19th-1941-decima-flottiglia-mas/ )
Os primeiros equipamentos de mergulho recicladores utilizavam o oxigénio puro como gás respirável o que permitia que fossem completamente “fechados”, não produzindo bolhas resultantes da expiração e portanto muito silenciosos e discretos. Eram, no entanto, muito limitados na sua utilização em termos de profundidade uma vez que estavam por natureza condicionados à toxicidade do oxigénio quando respirado a profundidades superiores a 6 metros (pressão parcial O2 > 1,6 atm). Assim surgiram equipamentos semi-fechados, primeiro com NITROX (mistura de oxigénio e azoto) e depois HELIOX (misturas de oxigénio e hélio) que procuravam aliar as vantagens ao nível dos consumos e da descrição proporcionada pelos circuitos fechados de oxigénio, e a possibilidade dos operadores poderem mergulhar a maiores profundidades. Este equipamentos funcionavam, tal como os seus congéneres a oxigénio, baseados no fornecimento contante da mistura utilizada para o circuito respiratório o que não lhes permitia serem completamente fechados devido à crescente acumulação do gás inerte utilizado para diluir o oxigénio, tendo de haver permanentemente uma pequena libertação de gases para o exterior ao longo do mergulho. Estes equipamentos tomaram assim a designação de equipamentos rebreathers semi-fechados.
Fig. 2 - Mergulhadores Sapadores da Marinha Portuguesa envergando equipamentos de circuito semi-fechado para misturas de NITROX (“Dräger FGT 1”). (Fonte: Mergulhadores da Armada – Marinha Portuguesa)
Muito motivado pela Guerra Fria, entre o fim da Segunda Guerra Mundial e a queda do Bloco de Leste, a utilização deste tipo de equipamentos no foro civil foi sempre muito condicionada. Com a queda do muro de Berlim e os acontecimentos subsequentes estas preocupações perderam significado e, já com o mundo num patamar de desenvolvimento tecnológico muito diferente do verificado no pós-guerra, reunira-se as condições para o surgimento de novos tipos de rebreathers e a possibilidade da comunidade civil poder usufruir de forma ampla deste tipo de equipamento de mergulho.
Nesta fase inicial os equipamentos disponíveis eram ainda basicamente de circuito semi-fechado mas rapidamente surgiu um novo tipo de tecnologia, os equipamentos de circuito fechado com misturas respiratórias. Este tipo de novas máquinas utilizava eletrónica e células para analisar a pressão parcial de oxigénio (ppO2) no circuito respiratório permitindo a adição do gás vital, através de válvulas solenoides, à medida que este é consumido pelo mergulhador. Assim sendo, em vez do equipamento transportar uma mistura pré-feita em função da profundidade de operação, transportava uma garrafa da mistura gasosa que seria a óptima para a profundidade máxima e outra de oxigénio puro. Este modo de funcionamento tem também a enorme vantagem de a mistura utilizada pelo mergulhador ser a mais adequada a cada momento e profundidade e não apenas no momento mais fundo do mergulho, aumentando a autonomia do equipamento, os tempos de permanência no fundo, reduzindo as obrigações descompressivas e acrescentado em consequência segurança à utilização.
Fig. 3 - Mergulhador utilizando um reciclador (rebreather) eletrónico de circuito fechado com TRIMIX (“Inspiration”). (Fonte: Foto do autor)
Em suma, os equipamentos recicladores eletrónicos atuais para mergulho com misturas gasosas, também vulgarmente designados por rebreathers ou CCR (Close Circut Rebreathers), são equipamentos que incorporam tecnologia de ponta, ao nível do utilizado num fato de astronauta para uma visita à lua, monitorando e gerindo todos os fatores do mergulho, desde a duração do absorvente de Dióxido de Carbono (CO2) à descompressão necessária cumprir pelo mergulhador. Podem utilizar ar e misturas de NITROX, HELIOX e TRIMIX. São já genericamente muito seguros e confiáveis e permitem alargar as fronteiras do mergulho recreativo e técnico a fronteiras até agora só alcançáveis a um grupo muito restrito de mergulhadores.
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