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Reguladores de Mergulho – Segundo Andar

Por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 976 (Janeiro e Fevereiro de 2014)

 

Após ter abordado o mergulho na juventude e o mergulho “sénior” nas duas anteriores crónicas, julgo interessante e pertinente falar um pouco do mergulho “no feminino”, não porque exista qualquer factor diferenciador entre os dois sexos na actividade de mergulho, antes pelo contrário, mas porque acredito poder desvanecer algumas dúvidas e, quem sabe, algum preconceito.

Na explosão do mergulho recreativo nos anos 70, por ser uma modalidade nova e “radical” e por grande parte dos instrutores terem a sua génese em instituições militares, criou uma imagem associada à masculinidade e vigor físico que veio a desvanecer-se com a generalização e banalização da actividade. Desde então o número de mulheres praticantes de mergulho com escafandro autónomo não tem parado de aumentar, representando neste momento um forte nicho, capaz de gerar grandes investimentos por parte dos diversos agentes económicos, com o objectivo de melhor explorar as características e exigências deste grupo particular de mergulhadores.

Vemos em praticamente todas as grandes marcas de equipamento de mergulho “linhas femininas”, explorando especificidades ergonómicas, fisiológicas e conceitos estéticos distintos dos produtos tradicionais mais masculinizados, procurando atrair este segmento de mercado específico, que marca presença na actividade de forma marcante e consistente.

Atualmente existe uma vasta gama e variedade de computadores disponíveis, adaptando-se a todos os tipos de mergulhos, do recreativo ao técnico mais radical

Fig. 1 - Grupo de mergulhadoras prontas a iniciar o mergulho (de Natal). Boa disposição sempre presente. (Fonte: Foto do autor)

Mas quando se fala de mulheres mergulhadoras surgem normalmente algumas questões: a gravidez, o período menstrual, a síndrome de tensão pré-menstrual e até a susceptibilidade às doenças de descompressão. Vamos então tentar lançar alguma luz sobre estes assuntos:

Começando por esta última, especulou-se que as mulheres, por terem maior quantidade relativa de tecido adiposo em comparação com os homens, poderiam ser mais susceptíveis a terem uma doença de descompressão que os homens. Os estudos e evidências apontam para que as mulheres não tenham mais probabilidade de desenvolver síndrome descompressivo agudo do que os homens com características físicas idênticas.

No que diz respeito ao período menstrual, existem alguns estudos que sugerem (não provam cabalmente) que existe uma correlação entre o período menstrual e o aumento da probabilidade de ocorrência de doenças de descompressão, especialmente se houver a utilização de contraceptivos orais. É importante referir no entanto que nenhum destes estudos desaconselha o mergulho durante esta fase, quanto muito sugere a adopção de perfiz mais conservadores. Não considerando as questões pessoais relacionadas com a higiene intima e privacidade, não existe nenhuma evidencia que demonstre qualquer incompatibilidade do período menstrual com a actividade de mergulho.

Ainda no âmbito da menstruação, mulheres fortemente afectados por síndrome de tensão pré-menstrual, com vincados comportamentos anti-sociais e depressivos, devem ser avaliadas no sentido de prevenir situações que ponham em risco a sua segurança e dos mergulhadores que com elas partilhem a actividade.

Atualmente existe uma vasta gama e variedade de computadores disponíveis, adaptando-se a todos os tipos de mergulhos, do recreativo ao técnico mais radical

Fig. 2 - O mergulho não diferencia idade ou género, permitindo uma partilha integral de todos os seus atractivos, esbatendo as diferenças fisiológicas entre homens e mulheres e potenciando a interacção social, pessoal e o convívio. (Fonte: Foto do autor)

Em relação à gravidez, por razões óbvias de ordem ética e deontológicas, poucos ou nenhum dados controlados existem acerca do impacto do mergulho na gravidez. No entanto, em teoria, as diversas alterações ao nível da fisiologia feminina e as particularidades da fisiologia fetal apontam para impactos potencialmente nefastos no normal desenvolvimento da gravidez e do feto, o que leva a que a actividade seja fortemente desaconselhada durante o período de gestação.

Posto isto, considerando alguns aspectos diferenciadores da fisiologia feminina com potencial impacto nas actividades de mergulho verifica-se que, tirando algumas situações muito pontuais, o mergulho é uma actividade com fortes características de integração, socialização e inclusão, transversal a idade e género, sendo por isso uma excelente opção quando se procura uma modalidade para praticar em família ou em grupo, em que as características do ambiente aquático favorecem a partilha de experiencias e desvalorizam as diferenças entre homens e mulheres.

 

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