O Mergulho “Sénior”
Por Paulo Franco em Revista de Marinha n.º 975 (Novembro e Dezembro de 2013)
Após ter abordado o mergulho na juventude na última crónica, mantendo a temática da relação da idade com a prática da actividade, vou dedicar esta crónica ao mergulho “sénior”.
De acordo com o “DEMA’s (Diving Equipment & Marketing Association) Annual Activity Report”, a idade média do mergulhador recreativo nos Estados Unidos da América é 45 anos, havendo algum consenso de opinião que esta idade tenderá a aumentar. Este facto estatístico deita por terra o velho paradigma que caracteriza o mergulho com actividade radical, praticado fundamentalmente por jovens que procuram emoções fortes, por um conceito que associa a actividade a uma população mais madura que procura no mar momentos de descontracção, socialização, desenvolvimento e suplantação pessoal.
Diz o povo que “velhos são os trapos” e de facto a assunção da idade como condicionante das nossas actividades diárias está muitas vezes mais relacionada com factores de ordem psicológica do que de ordem física. Ainda assim, as alterações fisiológicas associadas ao passar dos anos não podem naturalmente ser menosprezadas por quem pretende disfrutar do mundo subaquático. As alterações ao nível dos diversos sistemas orgânicos, nomeadamente do circulatório, neurológico e musculo-esquelético, fazem com que o mergulho, com o passar dos anos, deva ser abordado de forma mais conservadora e descontraída, por força da redução da eficiência e eficácia dos sistemas citados, com impactos incontornáveis ao nível do desempenho físico, do aumento da ocorrência de limitações agudas e crónicas e do aumento da propensão para a ocorrência de patologias associadas ao mergulho.
Passando às questões do foro emocional e psicológico, a experiência dos anos sugere um aumento da sensatez, noção do risco e um melhor conhecimento de si próprio e dos seus limites o que, transportado para o universo das actividades subaquáticas, se enquadra na perfeição no que é esperado de um mergulhador recreativo, que se pretende confiante, consciente e com boa capacidade de avaliação das situações.
Fig. 1 - O mergulho recreativo permite um intercâmbio e partilha multigeracional como poucas actividades, esmagando barreiras etárias e permitindo uma sã partilha do mundo subaquático entre pessoas de todas as idades. (Fonte: Foto do Autor).
Do ponto de vista extra pessoal, o mergulho recreativo como actividade iminentemente social e de partilha, surge como uma grande mais-valia num período da vida em que por norma as pessoas passam a ter mais algum tempo disponível para si próprias e procuram actividades e desafios que as preencham pessoal e socialmente, muitas vezes adiadas ao longo dos anos pelas contingências da vida quotidiana.
Esta alteração do universo dos mergulhadores já está a forçar a indústria do turismo de mergulho e associado ao mergulho a desenvolver programas especificamente adaptados à população sénior, os fabricantes a formatar os seus produtos em funções desta faixa etária e as entidades certificadoras a adaptar os seus padrões de modo a potenciar e enquadrar o desenvolvimento da actividade para este publico tão específico.
Fig. 2 - Mergulho de Natal como exemplo da forte componente social e inter-geracional das actividades subaquáticas em geral e do mergulho recreativo em particular, com uma crescente representatividade por parte do público sénior. (Fonte: Foto do Autor).
Ponderados os prós e contras, o mergulho, pelas suas características, assume-se assim como uma actividade de eleição para as pessoas de idade mais avançada. A ausência de peso, que reduz o esforço físico e impactos articulares, a forte propensão social, a tranquilidade e ponderação que a experiência de vida trazem, enquadram o mergulho recreativo como actividade singularmente aliciante para quem pretende manter uma vida activa e plena de experiencias e emoções.
Há neste momento poucas dúvidas que o mergulho, na próxima década, se caracterizará pelo reforço deste novo paradigma e que teremos cada vez mais uma população sénior como praticante activa das actividades subaquáticas.
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